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Dinâmicas e parceria entre SAS e Judiciário fortalecem Programa Família Acolhedora – CGNotícias

Recém ingressa no Programa Família Acolhedora, executado pela Secretaria de Assistência Social (SAS) do município, a funcionária pública Eva Regina Orue está se preparando para receber em sua família, a primeira criança ou adolescente afastado temporariamente do seu convívio familiar por meio de medida protetiva decretada pelo Judiciário.

Ansiosa, ela contou que já realizou todo o processo exigido, sendo que a última etapa foi a reunião organizada pelo Judiciário e profissionais da SAS, ocorrida este mês. “Estou na expectativa, mas acho que agora já vai estar tudo certo para a gente estar acolhendo. Temos três filhos e gostamos muito de crianças, quero muito que essa criança venha conviver conosco no nosso lar”, disse.

Durante este processo, é natural surgir dúvidas, receios e principalmente a curiosidade sobre como o Programa ocorre na prática. Para esclarecer esses questionamentos, aproximar as famílias e fortalecer o trabalho dos atores envolvidos neste processo, encontros pontuais são realizados entre a Secretaria de Assistência Social (SAS) por meio da equipe que atua no Família Acolhedora e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul através da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso e da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ).

O objetivo é promover uma sensibilização às famílias participantes do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora de Campo Grande, além de propiciar às famílias, a troca de experiências e o esclarecimento de dúvidas relacionadas à rede de proteção aos direitos de crianças e adolescentes.

No evento deste mês, que contou com a presença do secretário de Assistência Social, José Mário Antunes e da superintendente de Proteção Especial da SAS, Tereza Cristina Miglioli Bauermeister, o foco foi uma dinâmica em grupo desenvolvida pela equipe da Justiça Restaurativa nas Escolas, que realizou um círculo de diálogo que teve como foco uma oficina de Comunicação Não-Violenta. Elaborado na década de 1960 pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, o método da Comunicação Não-Violenta (CNV) é uma forma de comunicar que usa a escuta ativa, profunda e empática na linguagem e na comunicação para auxiliar na maneira como as pessoas se expressam e ouvem as outras pessoas.

O método abrange um conjunto de técnicas que estimula a conexão entre as pessoas e com elas mesmas, desenvolvendo uma expressão mais autêntica e honesta.

Inicialmente empregada em mediações de conflitos armados, a CNV se baseia no conceito de não-violência, que se refere a uma condição compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia.

“O curso foi muito legal, muito gratificante e proveitoso, porque eu tive a oportunidade de conhecer as outras famílias, famílias que já estão há algum tempo nesse projeto. A gente trocou experiências, então foi muito bom”, concluiu Eva Regina.

Desafios e ações

Entre os principais pontos destacados nos encontros, está a questão do desapego, segundo explicou a facilitadora da Justiça Restaurativa Escolar, Katiuscia Ferreira Roskosz.  “Buscamos ouvir as famílias e os vários setores envolvidos, para identificar suas necessidades e desafios. Dessa forma podemos elaborar ações, dentro de um círculo de diálogos. Um dos pontos mais difíceis pontuados é a questão do desapego. É importante não se apegar ao acolhido porque essa criança não poderá ser adotada pela família que o acolheu e logo ela deve voltar ao seu núcleo original familiar”, disse Katiuscia.

Coordenadora do Núcleo do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora da SAS, Fabiana Duarte Costa, enfatizou que até o momento o município conta com dez famílias acolhedoras e os próximos passos para fortalecer o Programa implicam em alterações na lei que regulamenta a ação. Uma das propostas é aumentar o subsídio pago às famílias acolhedoras. Ela explicou que dentro de dois meses haverá outro encontro para a troca de ideias. “A gente vai fazendo esse intercâmbio, e além disso criamos um Instagram e participamos de ações para divulgar mais o trabalho, inclusive em igrejas, explicando o que é e como funciona o serviço”, pontuou.

Enquanto a SAS e o Judiciário trabalham para ampliar a rede de famílias dispostas a acolher temporariamente uma criança ou adolescente, a advogada Larissa Cardoso, que este ano recebeu o primeiro acolhido em sua família disse que não vem enfrentando dificuldades no processo.

“Não vejo dificuldade no sentido do acolhimento, porque eu tenho filho, já cuidei de crianças, então assim, todo mundo em casa já tem uma experiência em cuidar de criança. Então o fato de você estar cuidando de uma outra criança, não tem dificuldade”, destacou.

Semelhanças

Durante a troca de experiências com as demais famílias, Larissa ficou surpresa em perceber que algumas situações são recorrentes em todos os núcleos familiares que ingressam no Programa. “Achei bem interessante também o fato de que o que acontece comigo acontece nas outras casas, como a questão do julgamento das outras pessoas, porque quando você fala que está num Programa de Família Acolhedora, surgem as perguntas sobre porquê a gente decidiu acolher crianças depois de ter criado nossos filhos. Então essa questão do julgamento é geral”, enfatizou.

Para a facilitadora Katiuscia Roskosz, as ações oriundas das reuniões são importantes para esclarecer a sociedade, que ao compreender o objetivo humanitário do Programa, pode ajudar a fortalecer a rede de famílias acolhedoras.

“Ouvimos relatos maravilhosos das famílias porque as crianças chegam com uma vivência totalmente diferente.  São crianças que não tiveram amor, não tiveram carinho, na verdade não sabem nem o que isso significa, então as famílias relataram o quanto é importante esse acolhimento. Tem pessoas que chegam querendo adotar, com dúvidas sobre o Programa, só que aí a gente, de tanto conversar, consegue fazer a pessoa entender a importância do acolhimento, mesmo ele sendo temporário, porque dessa forma é possível acolher e transformar a vida de mais crianças. E isso foi relatado no encontro”, frisou.

“Essas reuniões são fundamentais para entender não apenas o processo de acolhimento, mas também para despertar nossa sensibilidade e capacidade de se doar ao próximo. Todos nós somos muito comprometidos com o serviço e ficamos emocionados quando conseguimos conquistar mais uma família para essa rede”, revelou o secretário José Mário.

#pratodosverem A imagem que ilustra a matéria mostra a homens e mulheres, sentados e reunidos em um encontro do Programa Família Acolhedora. A segunda mostra um círculo de diálogo sobre o chão, tratando a comunicação não-violenta e falando sobre temas como respeito e empatia.