A história da BICICLETA Brandani
Geralmente quando se fala em bicicleta Brandani, quem conheceu e tem mais de 40 anos com certeza vai se lembrar do modelo acima. Porém existiram muitos outros modelos desta Fábrica, que resistiu valentemente ao duopólio das gigantes Monark e Caloi. Nesta postagem vamos contar esta história e conhecer outros modelos produzidos pela Brandani.
TUDO COMEÇOU COM AS MOTONETAS
Quando, em 1958, os irmãos Silvio e Hugo Brandani fundaram a oficina de Vespas e Lambretas – a Lambrevespa – na rua José Bonifácio, centro de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, começaram a trilhar uma história de sucesso no mercado de duas rodas. Com o passar do tempo e o surgimento de novas necessidades no mercado naquela época, a Lambrevespa incluiu em seus serviços, a fabricação e comercialização de peças e, posteriormente, mudou seu nome para Lambrevespa Brandani.
Com os negócios prosperando, foi natural a entrada de mais membros da família. Aos poucos filhos e sobrinhos já estavam inseridos no ramo das duas rodas. No início dos anos 70, o mercado de lambretas e vespas começou a ser substituído com a chegada das motos Honda e Yamaha, e a Lambrevespa Brandani cresceu, se segmentando em uma divisão comercial – onde havia a concessionária e a loja de moto-peças – e a divisão industrial – chamada Plasmotécnica, voltada para a produção de peças.
Em paralelo ao mundo das motos, o grupo também produzia e comercializava as bicicletas Brandani, que ficaram famosas por seus acessórios e designs arrojados, como a suspensão telescópica e o banco “banana”, que até então o mercado não conhecia, já que eram itens usados somente em motos. Foram produzidos cerca de 300 mil bicicletas, sendo 12 diferentes modelos, desde infantis, até modelos utilizados no transporte de cargas. Modelos esportivos, como a Surf e a Bikendur, marcaram época e, até hoje, são cultuados por colecionadores e apaixonados por bicicletas.
Com o grupo de empresas expandindo a passos largos, os irmãos Brandani optaram estrategicamente por dividi-lo: Hugo assumindo a parte industrial, e Sílvio assumindo a divisão de comércio.
O COMEÇO DAS BICICLETAS BRANDANI
A bicicleta Brandani surgiu em 1974, quando um dos quatro sócios da fábrica ribeirão-pretana, Sérgio Brandani, foi ao Japão em viagem oferecida pela Yamaha, e viu por lá o início do planejamento da bicicleta da marca, o modelo Motobike. Mas a Brandani conseguiu lançar antes sua Bikendur, idealizada por outro sócio, Hugo Brandani.
Para conseguir fabricar a bicicleta, os empresários compraram a fábrica Roles, que tinha mais de 25 anos de mercado em São Paulo, e a transferiram para Ribeirão. A produção começou em 1976, com a Bikendur, mas a Brandani produziu cerca de 300 mil bicicletas até 1981. Foram lançados 12 modelos que viraram paixão e até hobby de colecionador. “Se encontrar uma à venda, eu compro”, diz Victor Brandani.
A Bikendur BK1 era uma bicicleta completamente diferente de tudo que se via no Brasil até aquele momento, e novidade até no exterior. Uma bicicleta todo terreno, inspirada nas motos de motocross, era composta por amortecedores dianteiros do tipo Ceriani e traseiros com molas.
O modelo apresentado ao público em 1975 era composto de garfo duplo com amortecedores telescópicos, amortecedores telescópicos com molas na traseira, freio traseiro por atrito de bucha, no centro da caixa do cubo, com acionamento contra-pedal, selim banana, câmbio de 3 velocidades Sturmey Archer no cubo traseiro.
Nos anos 80 a Bikendur viu se tornar base de inspiração para a Monark criar sua Triunfo e BMX tanque turbo. A Brandani, no entanto, tratou de modernizar sua Bikendur, desenvolvendo linhas ergonomicamente mais acertadas para o quadro de sua Bikendur.
A Brandani todavia não fabricava somente a Bikendur (popularmente conhecida apenas como Brandani). Seu portfólio contava com vários modelos e tipos de bicicletas, desde modelo inspirados na Monareta e Berlineta, até bicicletas de carga.
Foram fabricados modelos de cinco e dez marchas, Monaretas genéricas e até uma dobrável, que cabia em uma pasta 007, muito usada na época. Uma das características das bicicletas era resistência. O quadro tinha uma espécie de cachimbo para que os tubos não fossem soldados um no outro, mas encaixados antes. Da fábrica nasceram pequenas indústrias de “fundo de quintal”, tanto que o kit da marca continuou a ser produzido por mais quatro anos após a venda da fábrica. Além de competir com força no mercado, a bicicleta foi o primeiro passo para o lançamento de ciclomotores, que foram produzidos até 1999.
No pico de produção, a fábrica chegou a produzir 8 mil unidades por mês, e incomodava o mercado. O principal cliente era o Mappin. Segundo Sérgio Brandani, além dele havia mais três sócios: o pai, Sílvio Brandani, o tio Hugo Brandani e Nelson Camei, o único que não era da família. E o fim da empresa foi determinado principalmente pela morte de Camei, em março de 1981, em acidente automobilístico.
“Os diretores da Caloi vieram para o velório e duas horas após o sepultamento a empresa já era dona da Bicicletas Brandani”, lembra Sérgio. Mas a venda foi também em consequência das dificuldades enfrentadas pela indústria de Ribeirão Preto, proporcionadas pela própria concorrente.
A Brandani foi uma valente fábrica de bicicletas brasileira, que ousou, assim como a Peugeot, se interpor ao monopólio de mercado, imposto naquela altura por Caloi e Monark.