O dólar está perdendo força em 2022. Nesta segunda-feira, a divisa fechou em queda de 1,43%, a R$ 4,9440, menor valor desde 30 de junho de 2021(R$ 4,9728). No ano, a moeda norte-americana acumulou queda de 11,32%
Em 2022, o Brasil é o país onde o dólar mais se desvalorizou, segundo dados da Economatica.
Movimento é resultado do alto volume de investimento estrangeiro no Brasil em razão da trajetória de alta da Selic e com o diferencial de juros em relação a outras economias, mesmo com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Das 25 economias acompanhadas pelo Economatica, o dólar perde valor em dez países, e se valoriza em 15.
O alívio na pressão cambial, no entanto, exige cautela, já que as eleições devem entrar no radar dos investidores nos próximos meses, segundo especialistas consultados pelo g1. De acordo com o último boletim Focus, a previsão é que o dólar termine o ano em R$ 5,30.
Confira abaixo os motivos que levaram o dólar ficar abaixo dos R$ 5:
Volume de investimento estrangeiro
O alto volume de investimento estrangeiro que o Brasil vem recebendo é um dos fatores que impulsiona a valorização do real frente ao dólar. A bolsa de valores de São Paulo, a B3, registra uma alta de 7,70% nesses investimentos em 2022.
De forma simples, a regra segue a lei da oferta e demanda: se o investidor de fora coloca mais dólares na economia brasileira, haverá um volume maior da moeda por aqui. E quanto maior a oferta, menor o preço.
Neste ano, o investimento estrangeiro na bolsa passa dos US$ 50 bilhões.
Aumento dos preços das commodities
O aumento dos preços das commodities no mercado internacional também fortalece o real, uma vez que há um forte ingresso de dólares no país com a venda de produtos, como soja, minério de ferro e petróleo, explicou André Perfeito, economista-chefe da Necton.
O preço do barril de petróleo teve média de US$ 44 em 2020 e chegou a US$ 70 no ano seguinte. O agravamento do conflito na Rússia deu novo impulso aos preços do insumo, que agora passam de US$ 100.
Taxas de juros
A alta da Selic também atrai estrangeiros para o Brasil, via investimentos em renda fixa. Depois da última decisão do Copom, o Brasil voltou a ter o maior juro real (descontada a inflação) do mundo – pagando, assim, um retorno atrativo ao capital externo.
Veja o ranking mundial de juros reais
Segundo Silvio Campos Neto, economista sênior da Tendências Consultoria, os juros dos EUA, que subiram pela primeira vez em cinco anos, também ajudam a cotação do dólar a baixar por aqui: diante da postura mais agressiva do Federal Reserve, o BC dos EUA, para combater a inflação por lá (que atingiu o maior nível em 40 anos), os investidores norte-americanos estão se desfazendo de suas aplicações na bolsa, já prevendo o crescimento mais tímido da economia do país e das próprias empresas em que investem.
“Os investidores passaram a ver o Brasil como um mercado interessante entre os emergentes”, explicou o sócio da Tendências.
O dólar deve continuar em queda?
Na avaliação dos especialistas, será preciso ter cautela a partir do segundo trimestre, quando as eleições no Brasil entrarão no foco dos investidores, fazendo com que o dólar volte a subir, afirmou Silvio Campos Neto, da Tendências.
“Temos riscos consideráveis no Brasil. E o processo eleitoral deste ano vai gerar muito ruído”, alertou o economista.
Movimentação de passageiros que buscam realizar exame para detecção da Covid-19 no Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP — Foto: AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF – AGÊNCIA DE
É hora de comprar dólares?
Para quem tem dinheiro guardado ou tem de viajar a trabalho, os especialistas recomendam comprar dólares o quanto antes para aproveitar a cotação atual – já que ela pode não durar muito.
“A queda do dólar não deve ser muito duradoura por conta do risco Brasil, principalmente em ano de eleição. Temos muitas coisas importantes acontecendo no exterior e aqui [no Brasil] temos um processo eleitoral carregado de incertezas”, conclui o sócio da Tendências.